segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nem o pai morre, nem a gente janta


Isto tem andado a remoer aqui dentro. Posso estar a ser leviana, até porque também eu já fui uma adolescente cheia de dores e a carregar o mundo nas costas (fui?).
Tenho reparado, provavelmente porque sou mãe de dois adolescentes, que me vão chamando a atenção para determinadas ocorrências, que existe um crescente sentimento de "desespero" nesta gente so called teenagers. Bem sei que é uma jornada das nossas vidas em que tudo parece muito maior, assim mais ou menos como se estivesse a ser usada um lupa poderosa. Os amores são mais intensos, os ódios mais sangrentos, as opiniões mais vincadas, as certezas mais absolutas, e o mundo obviamente gira em volta do nosso próprio eixo, muito mais nesses anos que antes, ou depois.
Agora expliquem-me se puderem, se já e tão difícil, ultrapassar impune esses verdes anos, sem grandes mazelas que não sejam uma enorme saudade de lá voltar, porque é que os miúdos inventam mais merda pra cima deles? Atentem bem nos textos que escrevem. Nas ladainhas de auto-piedade, onde o ceguinho é sempre na primeira pessoa e nem precisa que ninguém lhe bata, porque eu sou tão feia, gorda, triste, solitária, desgraçada, magra, borbulhenta, coitadinha, não tem pena de mim?? Oh pá tenham lá pena de mim se não enfio os dedos na goela e vomito o pão integral que comi ontem ao jantar e depois choro e borro o rimel todo e aproveito e tiro uma fotografia que estampe essa tristeza tão grande e profunda e sem mais demoras vou logo posta-la no facebook pra que o mundo saiba como eu sofro pá!
E por fotografias, atentem bem na linha condutora das fotografias que polulam por essa web fora de adolescentes em "sofrimento", tristes, landscapes tristes, flores tristes, um desespero é o que é.
E depois ainda há os cultos atarraxados a todo este Carnaval, as bruxas, os demónios, os símbolos pendurados ao pescoço em enormes cruzes invertidas ( que Cristo é um chato e o dark side rula), etc, etc, etc.
Não é cá por coisas, mas a estas meninas e meninos que sofrem, tenho alguma curiosidade de os ver em menos de 10 anos, com um dois filhos pendurados nas mamas, a conta do gás a tinir, a barriga a dar horas, o emprego que nunca mais aparece, a toilette da Pascoa comprada nos chineses, e os tostões bem contadinhos até ao fim do mês. Isso meus filhos é que é sofrer. Até lá, vão cortando os pulsos com uma colher de pau faxavor.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O baile


Já passaram uns dias, mas só agora, me sinto completamente depurada da sensação de enfado e enfarto que o dito cujo me causou.
A miúda mais velha, a um passo de acabar o 12º ano, lá teve direito ao habitual baile de finalistas. E quando digo teve direito, quero mesmo dizer o vestido, o padrinho a colher, as fitas e todos os adereços requeridos para a ocasião, o que muito me espantou, pois que a rapariga é toda armada aos cucos e coise...
Agora meus senhores, aquilo que deveria ser uma coisa leve, enfim, um apontamento da mudança que se aproxima na vida destes gaiatos, transformou-se ali mesmo naquele espaço tipo espartilho, numa autêntica feira de vaidades. A começar pelas mesas recheadas de iguarias, leitões assados...havia leitões assados. Pratos de porcelana, toalhas de linho bordadas, bolos encomendados propositadamente a pastelarias de alto gabarito. Vestidos de pedrarias e lantejoulas e bijuterias de brilhos estonteantes e saltos vertiginosos e arranjos de flores naturais. Quem entrasse desavisado, pensaria tratar-se de um casamento daqueles de aldeia, em que cada convidado tenta ofuscar a noiva a todo o custo.
Aliás a entregar-se um prémio de "modelito mais propenso a provocar o vómito em todo o auditório e arredores", ele iria direitinho para as mãos de um pai, sim de um pai que trajou autenticamente de "luces", com uma fatiota preta de riscas sedosas e brilhantes. Um estrondo.
Não nego. Foi uma noite interessante para o imaginário de qualquer um. Aproveitei bastante.
Nos lá fomos, a famelga em massa. E no meio de toda aquela parafernália, a malta até parecia muito normal! Verdade. Senti mesmo uma pontinha de embaraço pela minha tábua de queijos e tostas e pelo bolinho de chocolate feito a justa mesmo antes de hora do baile.
N
ão consegui deixar de pensar que deviamos estar a ensinar aquela juventude toda a vestir o fato de macaco e pegar na enxada, porque pelo andar da carruagem têm mesmo muito que "dançar" coitados.
Anyways... agora um bocadinho de baba pegajosa, viscosa e gostosa, digam l
á se a magana da gaiata não estava linda de morrer?
Sim eu sei...tal e qual a m
ãe...

Fotografia: Leonor e padrinho primo Pedro

 

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