quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Espelho, espelho meu...

Muito se fala na relatividade da beleza.
Que a beleza verdadeira é aquela que não se vê, que o que interessa não é o invólucro, mas sim o que está lá dentro, que as mais belas rosas são as que não têm qualquer perfume...poizé...bullshit! Tá-se mesmo a ver que isto é mesmo conversa de gente que por um ou outro motivo aleatório ou nem por isso, nasceu sem ser bafejado pelo hálito fresco de Afrodite, Venus, Lakshmi, Brandwen, Freyja ou outras do mesmo calibre.
Esqueçam, se pensam que a seguir vem o habitual chorrilho de falsas modéstias, "ah porque eu sou tao feia", "ah porque eu sou tão desinteressante". Podem tirar daí o sentido.


Toda a minha existência, tem sido feita de altos e baixos, acho que é o que basicamente acontece com quase toda a gente. Na adolescência era uma pita com a mania, nariz empinado, armada em culta e tal, a falar com gestos largos e voz alta, tudo isto a maquilhar uma insegurança que até hoje não me larga. O mais trágico no meio disto tudo é que me revejo (salvo o upgrade óbvio) na minha mais velha! Todos aqueles trejeitos que conheço de cor e salteado, aquela áurea de miúda sabe tudo, fixe, estilosa...mas que ao mesmo tempo tem uma relação com o espelho que é um desastre.

Todo este palavreado vem a propósito de uma fotografia infame, onde eu, aí com uns 6 ou 7 meses, empunho um martelinho de plástico, enfiada dentro de um macacão de malha branco, tricotado pela minha avó Catarina "Carrapata". A minha querida mãe, e já agora acho que com a concordancia do meu paizinho, fizeram o favor de mandar o fotógrafo fazer umas 20 ou 30 cópias do dito retrato, que, até hoje, 42 anos depois, me persegue por todos albúns de familiares e gavetas atafulhadas de memórias antigas. Esta fotografia, ando cá desconfiada, encerra nela, todos os traumas e inseguranças que me assombram (às vezes...poucas vezes que eu não sou muito dada a esses "ais, uis").
Como podem comprovar, é um pesadelo, eu tinha a cabeça cheia de eczema, e estava muito longe do ideal de um bebé bonito, aliás se quiserem ser honestos (eu aprecio a honestidade) nem pareço própriamente uma criança e agora mesmo estou a ver aqui e ali um certo ar de Benjamin Button. Deplorável esta pequena jóia de família. O que teria passado pela cabeça dos meus pais!? Acharam com toda a certeza que estavam na presença da coisa mais perfeita que alguma vez alguém teria visto!


É que só pode!



Os olhos de uma mãe, são quase pecaminosamente falsários, mentirosos e a um tempo vivem nessa mesma ilusão, de que as suas crias são as mais belas. Contam tantas vezes a mesma mentira, que lá no âmago do seu ser esta transforma-se na mais perfeita das verdades.
Ainda me lembro, quando a educadora da Leonor (a mais velha), me chamou (a senhora era uma daquelas religiosas à paisana, muito recta e autoritária, com a mania que tinha Deus na barriga, quando na verdade O deveria ter no coração), muito indignada, porque a rapariguinha repetidamente apregoava ser a menina mais linda da sala. Eu ainda pensei desculpar-me "sabe, as meninas têm destas coisas, não ligue, se calhar é próprio da idade, afinal só tem 3 aninhos..." e assim...mas não gostei do tom critico, não gostei no dedo espetado direito ao meu nariz e ao meu orgulho, vai daí que "sabe Irmã...ela diz isso, porque é o que eu lhe digo todos os dias de manhã quando a acordo e à noite quando a deito", confesso que cada palavra foi desfechada com a violência de uma bofetada. Essa agora!

O que me transporta sempre, para uma estória/fábula que a minha sogra costumava contar às crianças, sobre uma cegonha que fez um pacto de paz com uma raposa e lhe disse que jamais poderia comer-lhe as crias. Ora a raposa, perguntou-lhe como poderia reconhecer os filhos dela, nunca tinha visto cegonhitos! Ao que a cegonha lhe respondeu "logo que os vires, os reconhecerás, porque são os mais belos que há neste bosque". No primeiro passeio pelo bosque, a raposa deu de caras com um ninho em cima de uma árvore frondosa, lá dentro estavam quatro pequenas aves meio peladas, feias como a noite escura e sem mais, tratou de as comer. Claro que eram os filhos da cegonha, que, para quem não sabe são umas criaturas feias de dar dó!
Voltemos então à fotografia do martelo. Eu era claramente a cegonha bebé, e só a minha santa mãe não dava por isso...

Mais tarde, já do dealbar da minha pré-adolescência, encontrei este exemplar bem emblemático da minha pessoa. Devia ter 10, 11 anos, e não há muito tempo fui dar com os meus filhos a rir às voltas desta fotografia. passavam-na de mão em mão, e a cada volta iam descobrindo naquela rapariguita espevitada, a mãe deles.
- Xi mãe! É que devias ser do píorio! Tu tás a ver bem este sorriso! Se não tinhas tramado nada, certamente estavas "com ela fitada" pra tramar!
Nesta imagem, estou de facto mais próxima do que sou. Tenho efectivamente um sorriso um bocadinho...gosto de pensar que, misterioso.

Também qual é a mulher que não gosta de pensar que é misteriosa?



ps: aquilo das deusas, foi tudo googlado, eu até sei umas coisas e assim, mas Feyja??? no way!

pss: decidi não mostrar imagens da adolescência, porque o conceito de estilo 80's poderia chocar os mais distraídos

psss: e mais recentes ainda menos, porque a focagem da Canon, é boa, mas é pouco larga...

pssss: acho que é mesmo tudo

Pic martelo: de uma qualquer gaveta de uma qualquer casa de um qualquer familiar


Pic mais crescida aqui



20 comentários:

Mulher a 1000/h disse...

1º: Adorei o texto! Ri-me de papo cheio!
2º: Não és só tu que tens destes tesourinhos! Eu vivi a minha adolescência nos anos 90... na época das palas de 15 cms e dos socos de cortiço! Valha-nos Deus, nem é bom lembrar!
3º: a respeito da beleza dos filhos... a minha é linda, é óbvio, mas lembro-me sempre de uma frase que a Sophia de Mello Breyner disse quando viu nascer um dos seus filhos, acho que o Miguel: "Ele era quase bonito!" - Acho muito expressiva esta frase! LOL

Quanto a mim, acho que também sou "quase bonita", mas isso falando unicamente da beleza estética, que se falarmos de beleza interior... aí devo ser "quase feia"! LOL

Parabéns pelo texto! Gostei!

weee disse...

Eu ia jurar que já me tinhas contado a história da foto dos 10 11 anos mas agora a outra... essa sim tu devias ter-me contado antes!!! :D:D:D

Brown Eyes disse...

Mel prometes pôr uma foto actual? Pode ser quando fizeres o post da velhice, pões a de bébé e a seguir uma actual. Contas então as diferenças que existem entre a bebé e a quarentona. É que nos quarenta já começamos a sentir sintomas de velhice. Quem diria né? rsssss Não foi só a mulher a 1000/h que se riu de papo cheio, eu também. A beleza de um filho é mesmo algo fora de sério, mesmo o filhote da cegonha, horrível, consegue ser bonito aos olhos da mãe. Esta é a beleza menos discutível. Quem consegue dizer a uma mãe que o filho é feio? Ninguém. Mas olha que tu em bébé não estás nada mal, para a época estás até muito bem. Já trabalhavas que te fartavas, até na foto apareces de martelo em punho. Por não teres medo ao trabalho arranjaste uma familia tão grande. Três bébés não está nada mal, três belezas. Uma delas já vi e é uma beleza para ti e para nós.
Adorei este espelho meu, espelho meu há alguém mais belo que eu? NÃO

chica disse...

Adorei teu texto, bem divertido.E como é estranho olhar nossas fotos de antigamemnte,rsrsrs.Dá impressão que saímos de museus,não? Lindo texto!beijos,chica

Su m disse...

Gostei mesmo muito do texto.
Gostei ainda mais das fotos o que me dá a sensação de alivio por ver que afinal não sou a única a ter fotos desastrosas.
Beijinhos

El Matador disse...

Gostei da dissertação; divertida e ao mesmo tempo mordaz.

Brown Eyes disse...

Mel há um desafio para ti no meu blog. Gostaria que aceitasses. Passa por lá. Beijinhos

Johnny disse...

Também estava à espera de ver mais fotos. Faltou a coragem!

Não és mulher não és nada se não puseres mais!

meldevespas disse...

Mulher: 1ºAinda bem que te divertiste eheh
2º As minhas crias tb são lindas de morrer!
3º Tu és muito gira por fora (porque já andei a espreitar lá no teu cantinho, e pelo que escreves, pela sensibilidade, pelas preocupações, quase posso arriscar que tb não és assim muito feia por dentro. ;DD
Beijinhos
Weee: Aiiiiii e ainda as que tu nem suspeitas...um dia com tempo, eu mostro tudo. Beijocas
Mary B.: Não ía ser bom...garanto-te que não...mas ainda assim, quem sabe se um dia não me dá na telha!
Os filhos esses, vou-vos mostrando a pouco e pouco, e claro, para mim são as criaturas mais perfeitas do mundo mesmo com todas as imperfeições que lhes reconheço eheheh
Beijos grandes
Chica: Dá a impressão que acabei de sair do museu de cera do terror isso sim!!! Mas ainda bem q te divertiste a ler!
Beijinhos
Su:ehehehe obrigada! É que há fotografias que são mesmo um atentado ao pudor!!!
Beijinhos
El Matador: Obrigada, até porqu é essa mesmo a intenção. Beijo
Jóni: Faltou coragem sim Senhor! Quem sabe, qualquer dia....mas nahhh não me parece. O que tu queres é rir à borla!
Beijinho

Lala disse...

O Mel... O que eu me fartei rir. Muito engraçado este teu "regresso ao passado". Em beleza mesmo! Queres honestidade?? Eu até acho que eras uma bebé bonita... Eczema na cabeça, sim ok... mas bonita!

Beijinho*

Teresa Diniz disse...

Mel
Como é que este teu texto me tinha passado despercebido? Não apareceu no meu rol!
Olha, diverti-me imenso a ler-te e, confesso, revi-me em algumas coisas. Tiveste coragem em pôr fotografias da tua adolescência. Eu acho que não tinha. Época mais estúpida e sem-graça. Quanto aos bebés, são sempre giros, não é? E então aos olhos dos pais!
Bjs

meldevespas disse...

Lala: Ohhhhh és muito querida, mas esta fotografia é um pesadelo, e outras vezes um frame de um filme cómico, depende da disposição rssrssss De qualquer das maneira muitíssimo obrigada, beijo!
Teresa: Aquilo ainda é assim, uma espécie pré-adolescência, um dia se me der na telha ainda espeto aqui algumas da minha adolescência plena, aí nos meus 15, 16 anos, em plenos 80's, isso sim é que vai ser rir!
Beijinhos

mz disse...

Mel...
Boa noite,
só agora vim cuscar a tua crónica e ainda bem que vim...
Tu deves ser muito divertida e olha,
tu desculpa, mas os teus filhos têm razão, tu tens um ar de marota... ai tens, tens!

Olha Mel, eu adorei o teu conceito de beleza no que toca a ser mãe... porque ser mãe é a beleza transformada...
os nossos filhos são sempre os mais bonitos e defendemo-los com unhas e dentes...
(também sou mãe)

deixo beijinhos aqui na tua colmeia

João Roque disse...

Gostei sinceramente deste texto.
Parabéns.

meldevespas disse...

MZ:Obrigada, pela visita e pelas palavras. Ai também achas? Tou tramada com vocês todos! rsrs. Não sei se sou divertida....tenho dias, devo ser como toda a gente, mas sim, tento "alawys look on a bright side of life"
E os nossos filhos, lá está, é muitas vezes o elogio da cegueira ehehe, são sempre as coisas mais lindas e perfeitas do mundo inteiro e arredores!!!!oh se são!!! Beijo grande e volta sempre
Pinguim: Obrigada, a sério. Ainda por cima tiveste a pachorra de visitar as minhas duas casas, a do Sapo e esta aqui. Homem de coragem eheh
Beijo Grande e volta sempre

Catsone disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catsone disse...

Como pai "fresco" devo dizer-te que tens razão: os nossos são sempre belos. Por vezes, ao ver os filhos de amigos, penso: mas será que eles não vêem? Não sei o que falam da minha menina mas, para mim, não existe nada mais perfeito (ainda bem que sai à mãe).

Quanto a tua 2ª foto, lembrou-me a "gioconda"...

meldevespas disse...

Catsone: Isso da Gioconda....não sei se me agrada muito eheheh
E claro que os nossos são sempre mais bonitos, aliás esta coisa de ser pais, é a única situação em que não se aplica a máxima popular " a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha"
Beijo e felicidades prá cachopinha

Ginger disse...

Tu tás é com um sorriso de quem tá a gozar com o pessoal. ««

Anyways... não sei como raio não tinha lido este texto antes. =| Não apareceu na minha home page... mas tenho uma vaga ideia de ter visto este kispo antes. *thinks*

As minhas fotos da adolescência são simplesmente medonhas. Não há palavras e acho que era capaz de deitar fogo ao álbum sem qualquer tipo de remorso. =|

E não concordo com isso de as mães acharem sempre que os seus filhos são os mais bonitos. :p
Eu tenho essa noção completamente calculista.


*****

meldevespas disse...

Ginginha: As fotografias da adolescência são uma coisa pra se ter guardada com muito pudor, quase como um terrivel segredo Tás a ver? Anos 80, fitas na testa, calças com tachas, ombros almofadados, altas franjas escadeadas e atacadas de laca, sabrinas de verniz, uiiiii é que é um martirio mulher!
E deixa-te de calculismos, confessa lá, que À noite, quando lhes vai dar o ultimo beijo do dia, ou uma ultima espreitadela, não dizes: Ahhh car**** pode lá haver coisas mais lindas neste mundo!? Ai não que não dizes! E se não dizes....pensas :coffix:

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