terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Choque


Há dias que uma pessoa o melhor que fazia era arranjar uma dor de barriga, e ficar em casa arrecadada.

Esta manhã fui com os dois mais novos caminho de Évora, para consultas de rotina e exames e porras que não interessam agora pró caso.

O galarote do gaiato, sentado ao meu lado, armado aos cucos, foi o caminho todo: vai mais depressa, já é tardíssimo, devíamos ter vindo mais cedo, é sempre a mesma coisa. E por aí adiante.

Eu lá fui fazendo ouvidos de mercador. Olhos postos no trânsito, e ouvidos no cd do Glee, cantarolando alegremente.

Chegados à cidade, outra vez a conversa: xiii olha lá as horas, estamos atrasadíssimos, vai mais depressa.

Neste momento, e àquela hora, até mesmo em Évora há bichas, coisas pequenas é certo, mas que nos obrigam a andar mais devagar principalmente na entrada das milhentas rotundas que fizeram nos acessos ao centro da cidade.

Vai daí que eu já estava a azedar, e viro-me pra lhe dizer que fazia melhor em estar caladinho, e truz!

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espetei-me no veiculo da frente (gosto desta terminologia GNRistica, de veículo).

Vá lá, vá lá que a coisa até não correu pior. É que nem uma esfoladela em nenhuma das viaturas (outra vez a mesma terminologia-viaturas). Parei, como é da praxe, desci do carro, eu e mais o ocupante do veiculo da frente, lá observámos cuidadosamente, e o senhor, então minha senhora, de braços abertos como quem diz, então minha grande azelha, e eu, desculpe, distraí-me por um segundo, mas olhe não foi nada, tá a ver. Ele olhou outra vez, desconfiado, e lá assentiu.

Pronto. Toca a seguir viagem.

E o galarito mal entro, ponho o cinto e fecho a porta: então isso foi o quê? tem que haver mais atenção não é? - muito sério e compenetrado.

Apeteceu-me parar outra vez a "viatura" e sová-lo ali mesmo, mas só consegui articular: - Tu pára imediatamente de ser......homem!

Só depois me apercebi que já era tarde. Ele já é uma espécie de homem, já é um bocadinho mais que um girino, e triste fado, já lá tem tudinho o que um homem tem. Aquelas palavras especiais nos piores momentos, aquele dom para arreliar.

Não perdeu pela demora a amostra de gente. Mal chegámos ao consultório, que aliás estava apinhado de gente, e só assim em jeito de demonstração de força, atirei: - Querido, se quiseres ir fazer xixi vai agora.

Um homem não faz xixi, mija. Olhou-me de esguelha e riu-se. O cabrãozinho é esperto.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Sopa

Hoje não se trata de culinária.

Só venho apresentar-vos a nova inquilina cá de casa.

É a Sopa. A mini-gata.

Desde já passo a explicar, que o nome nasceu da necessidade de o gato Rex molhar o pão....na sopa. Coitado do gato que andava tão a perigo que um dia, há já longos 15 dias, não sei como, porque as medidas de segurança eram tão apertadas (pelo menos tendemos sempre a pensar que sim, pobres de nós), desapareceu para não mais voltar. Ora o gato, que era um siamês armado aos cucos cheio de mimos e escasso em recursos para encarar o mundo la fora, tenho a certeza, a esta hora estará a atapetar uma qualquer estrada das redondezas (e um rico tapete que ele dava com aquela pelagem tão lavadinha e suave e macia e chuif chuif tenho tantas saudades do órdinário do gato que preferiu a "liberdade/morte certa" ao regaço da família, estupido idealista).

Pronto, agora deixámo-nos de falsas burguesias e fomos buscar a Sopa. A Sopa não tem pedigree de espécie alguma, é uma cat-street à séria. A Sopa é um animal convenientemente preparado para a crise em curso. A Sopa não consome comida de gato, porque não gosta, e come tudo o resto como se não houvesse amanhã. A Sopa tem garra e luta por uma batata frita. A Sopa não está pra brincadeiras no que respeita à barriguinha, aliás, até nós, já estamos no papo.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

É por estas e por outras.....



....que depois a malta não tem uma impressão muito boa deles.


Acho que já mencionei que vivo no Alentejo. No Alentejo onde a vida é calma, sem engarrafamentos, que não sejam uns quantos tractores no meio da estrada, sem filas de trânsito, a não ser na hora de deixar ou apanhar os miúdos na escola, que também é só uma para cada ciclo, sem stresses de maior, excepto a carga de trabalhos que é uma pessoa levantar-se da cama, enfim, não será o paraíso, mas é um descanso de vida.

Ontem à noite, eis que, por volta da hora de jantar, os meus "vizinhos" de toda uma vida (uma comunidade cigana que vive numa espécie de aldeia ali a menos de um km da minha casa; uma aldeia feita de propósito e à medida para eles pela autarquia) desataram aos tiros! E meus senhores, não foi um tiro nem dois. Foi um tiroteio. Ainda pensei "queres ver que alguém está a ver um filme de cowboys a esta hora e ainda por cima alto e bom som!". Mas não. Eram tiros, uns atrás dos outros. Lá recolhi os gaiatos para a cozinha, que fica mais longe das janelas da frente, não fosse o Diabo tecê-las, até a coisa acalmar.

Ao que parece tratou-se de uma peleja familiar. E estes "amigos", não estão com meias medidas, aiiiiii tás-me a chatear, pera lá que vou ali buscar a caçadeira de canos cerrados e dou três tiros pró ar q'até te borras todo...aiiiiiiiii.

Mas pronto, isto tudo dentro da maior das legalidades. Até porque calculo que eles tenham licenças de porte para todas as armas que dispararam, e prás outras que dão aos miúdos pra brincar e ainda prás que estão debaixo do colchão.

Foi uma noite diferente, deu direito a Levitan pelas goelas abaixo e tudo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Empreendedorismo



Fui à ortodontista com o meu filho. O rapaz tem os dentes todos tortos (todos temos lá em casa). Nem sequer foi bem uma consulta. " Veja la, Drª o que o rapaz precisa e quanto custa". Assim mesmo curto e grosso. A resposta veio na devida proporção " 850€ para baixo, 850€ para cima, mais as extracções que vão ser inevitáveis, e as consultas mensais enquanto usar o aparelho"...."ahh e tem que fazer estas radiografias panorâmicas. Com comparticipação, só mesmo em Lisboa, aqui em baixo não fazem, anda na ordem dos 70€ as duas".

Saí de lá perfeitamente elucidada. Falei com o meu marido, e parece que a única possibilidade de o rapaz pôr aparelho nos próximos meses, é mesmo eu e o pai abrirmos um negócio paralelo qualquer....uma coisa que renda bem e que não seja preciso uma pessoa colectar-se.

Assim de repente só me lembro mesmo de uma coisa...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Fé

é uma coisa muito séria, subvalorizada, e ao que dizem, nem que seja metafóricamente, move montanhas.


Pode ser que seja de mim, que sim, sou uma pessoa crédula e crente, mas acho que este ciclo todo sem fé, é assim uma coisa insossa.


Fé nos homens, ou em Deus, fé em nós e nas nossas capacidades.


Claro que a fé é o cordão umbilical da religião, fale ela a língua que falar, e isso não é impeditivo de ser também o motor, a turbina que faz andar em frente.


Não sou muito de baixar os braços, ou entregar os pontos, mas às vezes também calha. Confesso que não acho grande piada ao desfiar de queixumes diários de causalidades diversas, provavelmente vivo um bocado pelo lema do grande chefe gaulês da aldeia de Astérix, só tenho medo que o mundo me caia em cima da cabeça, mas amanha não será a véspera desse dia. Seja como for, sou uma pessoa de fé. Serei uma ingénua simplória de marca maior, mas seja.


Até porque neste território misterioso da fé, há muito que se lhe diga. Não é fácil acreditar. Já ninguém acredita, nem espera nada. Acho mesmo, que muitas vezes é preciso ter tomates para sequer admitir que se acredita, sob pena de se ser considerado desprovido de inteligência.

"E eu expliquei ao João, se Deus existisse já me tinha lançado um raio em cima porque estou a mandar bocas contra ele.(...)Onde esta Deus no meio disto tudo? é melhor que não exista. Porque se existir, então é um filho da puta. O João fugiu, tapando os ouvidos, com medo de ouvir mais heresias. (...) mas eram mesmo só bocas. Depois fui esconder-me para rezar e pedir perdão a Jesus Cristo pelas blasfémias proferidas. " Pepetela, in O Planalto e a Estepe
fé (latim fides, -ei)
s. f.
1. Adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro.
2. Testemunho autêntico dado por oficial de justiça.
3. Fidelidade.
4. Prova.
5. Crença

domingo, 3 de outubro de 2010

Vintage


Parece ser cada vez mais um conceito na moda. Vintage.

Agora a questão é, o que e mesmo ser vintage? , ou melhor, qual é a diferença entre velho e vintage?

Se estivermos a falar de um bom vinho, a coisa percebe-se, especialmente se for um vinho que saiba envelhecer, sim porque há alguns que nascem pra ser jovens e finam-se pouco depois. Se se tratar de uma bolsa, ou de um vestido, também acho que consigo identificar o gene vintage. Uma determinada estampagem, ou corte, uma determinada frase, a evocação de um qualquer ícone já morto e enterrado, as incontornáveis pin-ups. Na música, por exemplo, também não é difícil! Há uma certa sonorização que nos catapulta para o conceito sem espinhas, a voz do Sinatra, do Gene Kelly, da Judy Garland, do Nat King Cole ou uma dança do Fred e da Ginger...

Agora o que me inquieta é saber se uma pessoa também pode ser vintage, quer dizer, uma pessoa viva e que não seja, nem tenha aspirações a ser ícone de espécie nenhuma. E uma dúvida que me assola, a sério!

Por exemplo, sabes que estas a envelhecer quando os teus filhos começam a dar desculpas para evitar a tua presença ou aparição nos lugares que frequentam. Nem que seja a porta da escola, na hora da saída. Ou quando te olham de lado quando cantas uma canção ainda mais velha que tu (ontem a tarde estava a ver The man who knew too much do Hitchcock, e não pude evitar de cantarolar em uníssono com a Doris Day o Whatever Will be, e juro que houve uns "ai meu Deus, e "o que e isto!!!", e coise, e tenho a certeza que não foi pelo facto de eu estar a cantar, mas sim por estar a cantar aquilo...). Aí tens a certeza de que já estás em outro patamar, estás a bem dizer em queda livre, pelo menos é isso que os viventes abaixo dos .... vá 25 anos pensam.

Não sei se será masoquismo da minha parte, mas até me dá um certo gozo a forma como os herdeiros me encaram. Também já lá estive, e ainda tenho alguns flashes de como olhava os "velhos". Mas voltamos ao mesmo. Conseguirei sendo viva, atingir o estatuto de vintage, e portanto de ser uma coisa velha apreciada?

Temo que o meu extremo bom feitio, seja um travão entre mim e esse objectivo...

Só por causa das coisas, e porque os dias estão a encolher e a arrefecer, e porque me apetecia qualquer coisa doce, lembrei-me de fazer uma bolachinhas, estas sim bem vintage, ou seja, as intemporais areias, velhas e charmosas, e fáceis like Sunday morning :D :

300g farinha

200g margarina derretida

100g açúcar

2 gemas

1 colher de chá de fermento em pó

1 pitada de sal

misturar tudo e com as mãos, fazer bolinhas do tamanho de nozes. Colocar num tabuleiro forrado com papel vegetal, deixar um espaço de uns 2 ou 3 centímetros entre cada uma, não crescem muito, por isso nada de stresses, e esborrachar ligeiramente com um garfo de forma a fazer os risquinhos tão característicos destes bolinhos. Muito importante, ter sempre o forno pré-aquecido. Vigiar a cozedura, e retirar logo que comecem a ficar com um tom dourado. Deixar arrefecer em cima de uma grade (isto é só pra parecer uma coisa profissional...deixem arrefecer onde quiserem e se quiserem) e por fim passar cada uma por açúcar.

Esta receita rende uns 30 bolinhos. Eu fiz a dobrar.

E meus amigos, um sofá, uma caneca de chá e um punhado destes bolinhos, pode até ser um cenário velho, mas vale bem a pena.

Fotografia minha das minhas areias

 

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